Villi F. Seilert[1]
(Dez/2009)
Em plena semana da COP15, pelo
que se vê, provavelmente Copenhague não tomará decisões positivas em direção às
medidas eficazes para o controle do aquecimento global em escala planetária.
Afinal, parece que os governos dos Estados Unidos e dos países da União
Européia não reagem positivamente na proporção das suas responsabilidades como maiores
poluidores, tampouco os países em desenvolvimento aceitam tamanha conta da qual
passam a ser, cada vez mais, coautores e cúmplices.
Nem seria de se dizer que é um
problema de falta de provas das causas e conseqüências do aquecimento global,
enfim, os fatos estão convencendo a todos, mais uma vez dispensando a
(in)suficiência das ciências, como sempre contra-argumentam os céticos.
Fato é que
acabou o tempo de manter a inércia sob o argumento de que a ciência é incerta.
Melhor não esperar para confirmar se ela está certa ou errada, pois quando o soubermos
já será tarde demais para agir eficazmente. Neste caso o problema é antes de
tudo metodológico: não se terá como repetir a experiência, pois há uma só terra
e nós uma só vida.
Mas é o medo de perder que
mobiliza a todos - a uns os lucros escorchantes e a outros o direito de viver.
Bem, se
o argumento prevalente deva ser o dos lucros, os mercadores fazem as
contas e também estão percebendo que os custos serão enormes e crescentes a
cada dia que as decisões forem proteladas.
Felizmente,
sob o ponto de vista econômico as evidências também sugerem que os custos da ação
não devam ser superiores aos prejuízos em médio prazo. Nessa direção o mais
recente Relatório de Desenvolvimento Global do Banco Mundial[2]
argumenta que os custos de restrições mais rígidas contra emissões seriam
modestos.
Segundo
aponta o Jornal Financial Times (não é o Greenpeace!), em artigo do colunista
Wolf Martin, publicado na ultima quarta feira[3],
02/12/09, apenas a redução das emissões obtida com a substituição da frota
norte-americana de veículos utilitários e esportivos por outros com o padrão de
economia de combustível da União Européia já compensaria as emissões do
fornecimento de eletricidade para 1,6 bilhão de pessoas atualmente sem acesso a
ela. Eis uma razão consistente da resistência dos pobres e emergentes.
Também
a Agência Internacional de Energia (AIE) em seu Panorama Energético
Mundial sugere que para atingir níveis razoáveis das emissões a 450 partes por
milhão, o nível considerado consistente com o aumento médio da temperatura
global de cerca de 2ºC, e que cada ano de atraso na ação necessária
acrescentaria US$ 500 bilhões adicionais ao custo global estimado de US$ 10,5
trilhões.
Sugere
Wolf no mesmo artigo que o cenário alternativo é bem diferente: em vez de 40,2
Gigatoneladas (Gt) de emissões relacionadas a energia em 2030, nós teríamos
apenas 26,4 Gt – uma imensa diferença. Segundo ele, mesmo na posição mais
otimista, as atuais ofertas ficariam aquém em cerca de um terço das reduções
necessárias até 2020 para se chegar a um teto de 450 partes por milhão de
equivalente a CO2.
Como se
vê Copenhague vem tarde para que nossos filhos não arquem com a conta dessa
irresponsabilidade.
[1] Villi Seilert, 47, advogado, consultor em planejamento
e gestão social e ambiental – vseilert@gmail.com.